sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Com dólar alto, brasileiros que compraram imóvel financiado nos EUA veem prestações dispararem


Moeda estacionada por um tempo incentivou compras, mas consumidores não provisionaram margem para cobrir oscilações.
O sonho de ter um imóvel no exterior acabou se tornando um pesadelo para dezenas de brasileiros que, nos últimos anos, aproveitando o dólar desvalorizado ante o real, decidiram investir nesse negócio.



Há cerca de três anos, o empresário paulista Jorge Maluf comprou um apartamento em Miami, nos Estados Unidos, por US$ 380 mil, com o dólar a R$ 1,80 e prazo de financiamento de 30 anos. Com a moeda americana em torno dos R$ 2,70 – na sexta-feira, encerrou a R$ 2,693 -, a prestação disparou.
- Essa é uma situação que assusta muito. A sorte é que tenho conta em um banco americano, para onde comecei a mandar dólares antes que a moeda explodisse. Mesmo assim, ficou muito maior a dívida em reais – disse Maluf.
Segundo a economista Ione Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), quando um bem é adquirido em outro país, o comprador está exposto à legislação do local de origem. Ela lembrou que, no Brasil, é proibido fazer negócios ou contratos em moeda estrangeira. O mesmo vale para a correção do valor devido.
- Antes de fazer uma operação envolvendo um risco tão elevado, é preciso consultar um especialista e procurar formas de se proteger – recomendou a economista do Idec.
Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora, destacou que, como o dólar ficou estacionado por um bom tempo entre R$ 2,20 e R$ 2,30, muitas pessoas não acreditavam em mudanças bruscas. O erro, explicou, foi não provisionar uma margem para cobrir eventuais oscilações do câmbio.
É aí que entra o hedge, espécie de seguro que garante que, independentemente do que ocorra com o dólar na vigência do contrato, a moeda permanecerá no patamar negociado.
- Outra forma de proteção é quando o cliente tem conta em banco americano. Ele já compra os dólares, remete para a conta e paga a dívida usando o saldo que possui na instituição – completou Bergallo.
O gerente de câmbio da TOV contou ainda o caso de um cliente que comprou uma casa em Punta del Este, no Uruguai. Para evitar problemas futuros, pagou 20% do imóvel à vista e o restante, 60 dias após a escritura.
- Às vezes, alguém me pergunta: pago ou espero um pouco mais? O dólar vai subir ou cair? Não dá para responder, no caso específico do imóvel. O melhor é comparar os preços em dólar, ver se o valor do metro quadrado está de acordo com a realidade. Não dá para fazer a conta em reais – recomendou o especialista.
PROCURA CRESCEU 40% EM DOIS ANOS
Nos últimos dois anos, Bergallo afirmou ter atuado na venda de 1.100 imóveis, fazendo o envio dos recursos financeiros para fora do país. Segundo ele, o perfil do investidor é bem específico: normalmente, alguém que procura um imóvel entre US$ 300 mil e US$ 500 mil, pertence à classe média alta e que tem, no máximo, dois imóveis no Brasil. Já o público de altíssima renda não se intimida com a cotação. No total, a procura de brasileiros por imóveis nos EUA cresceu 40%.
Uma reserva em dólares nos EUA é a opção mais simples e eficiente de proteção, acredita Daniel Ickwoicz, sócio da Elite International, imobiliária americana especializada no público brasileiro. Outra opção é comprar um imóvel comercial, que gere renda em dólares.
- Temos visto ambos os casos – disse Ickwoicz.
Para Newton Marques, professor de Economia da Universidade de Brasília, é ingenuidade comprar bens em moeda estrangeira. A seu ver, a situação pode até piorar, com a mudança abrupta na política econômica da presidente Dilma Rousseff.
- Quando Dilma demonstra que vai aderir às forças de mercado e que fará o ajuste fiscal, é sinal de que o câmbio deve andar sozinho. Quem quiser se aventurar vai ter de correr riscos. Qualquer aplicação em moeda estrangeira é de risco. Funciona mais ou menos como a Bolsa – explicou Marques.
Com a crise de 2008, o valor dos imóveis nos EUA caiu até 70% em apenas seis meses. Na época, com a cotação do dólar mais próxima de R$ 2, muitos brasileiros viram a oportunidade de comprar e investir, especialmente, em Miami, Orlando e Nova York. Porém, a partir de 2011, os imóveis voltaram a se valorizar, com alta de 10,9%. Os juros do financiamento variam de 3,24% a 4,1% ao ano, com prazos de entre 15 e 30 anos, respectivamente.
Fonte: O Globo

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