terça-feira, 10 de outubro de 2023

 O Airbnb vai invadir a praia do seu aluguel




Uma das profecias mais aguardadas do mercado imobiliário global finalmente dá mostras de que vai se realizar.

Há pelo menos cinco anos, em conversas com proptechs e donos de imobiliárias, ouço a expectativa em torno do dia em que o Airbnb passaria a operar no aluguel convencional, de longo prazo.

Pois este dia chegou, e você terá que se adaptar a mais este movimento de mercado.

Vamos começar pelo contexto que levou o Airbnb a esta decisão.

Uma das startups mais revolucionárias de todos os tempos, o Airbnb se notabilizou por tomar mercado dos hotéis ofertando a locação de temporada, o famoso short stay.

Tamanho foi o seu sucesso com a proposta de valor de ofertar quartos e imóveis inteiros para viajantes, que os locadores descobriram que alugar pelo Airbnb era muuuito mais rentável do que deixar os seus imóveis na locação tradicional.

O resultado?

Nas capitais europeias com vocação turística e metrópoles americanas, o fenômeno do short stay se espalhou feito um vírus, a ponto de gerar um problema de ordem social: o número de imóveis disponíveis para locação convencional despencou, provocando aumento de preços e expulsando moradores para a periferia de cidades como Nova York, Berlim e Lisboa.

Numa ironia do capitalismo, porém, o sucesso galopante da startup despertou a reação de autoridades locais, que passaram a aprovar leis dificultando ou até proibindo o aluguel de temporada em regiões inteiras.

Nesta semana, o CEO do Airbnb, Brian Chesky, abriu o jogo e revelou que a startup está à beira da insolvência por conta das restrições governamentais.

Ato contínuo, como estratégia de sobrevivência, Chesky revelou ao Financial Times que em 2024 a empresa planeja começar a operar a locação tradicional de longo prazo.

Qual o impacto deste anúncio para a sua imobiliária?

Em primeiro lugar, saiba que provavelmente o Airbnb já vinha roubando locadores da sua carteira e potenciais investidores que hoje estão investindo na locação de temporada.

Hoje, o Airbnb já soma mais de 430.000 imóveis anunciados na plataforma em todo o Brasil, e a verdade é que as imobiliárias demoraram a perceber que estavam deixando dinheiro na mesa.

Só agora, depois de 15 anos de operação do Airbnb, vejo um movimento consistente de reação das imobiliárias buscando entender este mercado e buscando formas de o explorar

Agora, com o lançamento do aluguel de longo prazo, a ficha deve cair para todos, e aqui precisamos entender as virtudes e fragilidades do Airbnb.

Começando pelas fraquezas, o Airbnb oferece uma experiência de locação incrível, a menos que tudo aconteça conforme o programado.

O suporte aos clientes, em caso de algum imprevisto, é lento e pouco resolutivo, com a plataforma sempre “convidando” as partes a se entenderem.

Ou seja, o Airbnb não está pronto para relações de longo prazo, que normalmente acabam encarando desgastes relacionados a reparos e manutenção, entre outras situações que exigem mediação.

Em outras palavras, o Airbnb não faz administração de imóveis, e isso vai muito além do papel de um marketplace que só conecta locadores e locatários.

Se você deseja encarar o seu novo concorrente, aí está um bom caminho: abraçar a administração com todas a sua complexidade, elevando a sua capacidade de relacionamento e gestão de conflitos.

Já o ponto forte do Airbnb é a sua tecnologia muito bem resolvida, além da sua marca fortíssima que independe de tráfego pago para atrair visitantes.

Se o mesmo imóvel anunciado pela sua imobiliária estiver divulgado também no Airbnb, saiba que você corre o sério risco de ficar com as mãos abanando.

Para encarar esta fortaleza do concorrente, você deve apostar na captação de imóveis com exclusividade e na construção de estratégias de marketing que te permitam oferecer liquidez às propriedades anunciadas.

Se você acredita que o Airbnb vai demorar a chegar ao Brasil ou não ameaça o seu mercado, tudo bem.

Os seus concorrentes agradecem, mas saiba que estamos diante de uma iminente revolução da dimensão daquela provocada pela chegada do QuintoAndar, que revolucionou a experiência de alugar no Brasil.