Com dólar alto, brasileiros que compraram imóvel financiado nos EUA veem prestações dispararem
Moeda estacionada por um tempo incentivou compras, mas consumidores não provisionaram margem para cobrir oscilações.
O sonho de ter um imóvel no exterior acabou se tornando um pesadelo para dezenas de brasileiros que, nos últimos anos, aproveitando o dólar desvalorizado ante o real, decidiram investir nesse negócio.
Há cerca de três anos, o empresário paulista Jorge Maluf comprou um apartamento em Miami, nos Estados Unidos, por US$ 380 mil, com o dólar a R$ 1,80 e prazo de financiamento de 30 anos. Com a moeda americana em torno dos R$ 2,70 – na sexta-feira, encerrou a R$ 2,693 -, a prestação disparou.
- Essa é uma situação que assusta muito. A sorte é que tenho conta em um banco americano, para onde comecei a mandar dólares antes que a moeda explodisse. Mesmo assim, ficou muito maior a dívida em reais – disse Maluf.
Segundo a economista Ione Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), quando um bem é adquirido em outro país, o comprador está exposto à legislação do local de origem. Ela lembrou que, no Brasil, é proibido fazer negócios ou contratos em moeda estrangeira. O mesmo vale para a correção do valor devido.
- Antes de fazer uma operação envolvendo um risco tão elevado, é preciso consultar um especialista e procurar formas de se proteger – recomendou a economista do Idec.
Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora, destacou que, como o dólar ficou estacionado por um bom tempo entre R$ 2,20 e R$ 2,30, muitas pessoas não acreditavam em mudanças bruscas. O erro, explicou, foi não provisionar uma margem para cobrir eventuais oscilações do câmbio.
É aí que entra o hedge, espécie de seguro que garante que, independentemente do que ocorra com o dólar na vigência do contrato, a moeda permanecerá no patamar negociado.
- Outra forma de proteção é quando o cliente tem conta em banco americano. Ele já compra os dólares, remete para a conta e paga a dívida usando o saldo que possui na instituição – completou Bergallo.
O gerente de câmbio da TOV contou ainda o caso de um cliente que comprou uma casa em Punta del Este, no Uruguai. Para evitar problemas futuros, pagou 20% do imóvel à vista e o restante, 60 dias após a escritura.
- Às vezes, alguém me pergunta: pago ou espero um pouco mais? O dólar vai subir ou cair? Não dá para responder, no caso específico do imóvel. O melhor é comparar os preços em dólar, ver se o valor do metro quadrado está de acordo com a realidade. Não dá para fazer a conta em reais – recomendou o especialista.
PROCURA CRESCEU 40% EM DOIS ANOS
Nos últimos dois anos, Bergallo afirmou ter atuado na venda de 1.100 imóveis, fazendo o envio dos recursos financeiros para fora do país. Segundo ele, o perfil do investidor é bem específico: normalmente, alguém que procura um imóvel entre US$ 300 mil e US$ 500 mil, pertence à classe média alta e que tem, no máximo, dois imóveis no Brasil. Já o público de altíssima renda não se intimida com a cotação. No total, a procura de brasileiros por imóveis nos EUA cresceu 40%.
Uma reserva em dólares nos EUA é a opção mais simples e eficiente de proteção, acredita Daniel Ickwoicz, sócio da Elite International, imobiliária americana especializada no público brasileiro. Outra opção é comprar um imóvel comercial, que gere renda em dólares.
- Temos visto ambos os casos – disse Ickwoicz.
Para Newton Marques, professor de Economia da Universidade de Brasília, é ingenuidade comprar bens em moeda estrangeira. A seu ver, a situação pode até piorar, com a mudança abrupta na política econômica da presidente Dilma Rousseff.
Para Newton Marques, professor de Economia da Universidade de Brasília, é ingenuidade comprar bens em moeda estrangeira. A seu ver, a situação pode até piorar, com a mudança abrupta na política econômica da presidente Dilma Rousseff.
- Quando Dilma demonstra que vai aderir às forças de mercado e que fará o ajuste fiscal, é sinal de que o câmbio deve andar sozinho. Quem quiser se aventurar vai ter de correr riscos. Qualquer aplicação em moeda estrangeira é de risco. Funciona mais ou menos como a Bolsa – explicou Marques.
Com a crise de 2008, o valor dos imóveis nos EUA caiu até 70% em apenas seis meses. Na época, com a cotação do dólar mais próxima de R$ 2, muitos brasileiros viram a oportunidade de comprar e investir, especialmente, em Miami, Orlando e Nova York. Porém, a partir de 2011, os imóveis voltaram a se valorizar, com alta de 10,9%. Os juros do financiamento variam de 3,24% a 4,1% ao ano, com prazos de entre 15 e 30 anos, respectivamente.
Fonte: O Globo
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